O degolado
Meu bisavô, enquanto vivo, contou esta história para mim e meus primos em sua casa numa noite de chuva.
Muitos homens foram mordidos pelos seus cães, ou perseguidos por ele e seus lacaios armados até os dentes e rindo debochados pela cara de medo dos coitados.
Os cães logo encontraram o rapaz, que descansava embaixo de uma árvore frondosa na margem da cerca de arame farpado que separava a estrada de barro que levava até a cidade da propriedade do homem.
O homem chamou a atenção do rapaz e disse que ele iria pagar o preço de ter invadido sua propriedade. Ele soltou os cães sobre o jovem que gritava enquanto tentava escapar dos ferozes animais. O homem observava alegre ao jovem sendo dilacerado pelos cães.
Meses depois, o homem foi realizar mais uma maldade com outro viajante. Mas desta vez ele não voltou. Os seus empregados encontraram seu corpo pendurado pelo pescoço na mesma árvore em que havia matado o peregrino da última vez. Nenhum de seus cães foram avistados nunca mais. E ninguém teve coragem de retirá-lo dali, pois seus olhos estavam arregalados e cheios de sangue, o que os fazia ficar vermelhos. Deixaram o corpo para a polícia retirar e averiguar.
Naquela época isso demorava muito e apenas no outro dia a polícia chegou ao local. Mas o corpo do homem agora estava no chão e sem a cabeça. Ninguém jamais soube explicar quem havia feito aquilo, pois ninguém teria coragem de ir até aquelas brenhas na escuridão da noite. A cabeça do homem foi encontrada dias depois boiando na enorme lagoa que dá nome à cidade.
Hoje as pessoas têm medo de passar naquele trecho da estrada, que agora é de asfalto, mas ainda passa do lado da árvore citada na história. Vários relatos afirmam ter visto um homem pendurado na antiga árvore, ou um homem todo ensanguentado sentado à beira da estrada, ou ainda latidos fortes nas noites mais frias.
Esta é uma das lendas urbanas mais conhecidas de minha cidade. As pessoas acreditam realmente que existe algo de sobrenatural naquele lugar e evitam passar por lá de madrugada.
Um fenômeno fantástico e uma história rica em detalhes. Acreditem se quiser, mas cada palavra aqui escrita foi retirada das histórias relatadas pelos moradores da região. E pasmem, o homem que morreu degolado era sobrinho do meu bisavô e dizem que a marca da maldição perdura até hoje no ventre de minha família. Será?
Nenhum comentário:
Postar um comentário